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Agricultura Digital

Sem categoria 21 de novembro de 2018. Visualizações: 118. Última modificação: 21/11/2018 13:28:25

Automação, palavra-chave também na agricultura

Por Bettina Barros | De Las Vegas (EUA)

A areia amarela do deserto do Mojave vai sendo marcada pelos pneus de quase 1,80 metro de altura do trator de 400 cavalos que se move sem motorista. Alguns metros à frente, máquinas com cabines vazias se movem de um lado ao outro num ritmo constante, cavando buracos e aplainando o terreno com precisão milimétrica para um grupo de espectadores intrigados e surpresos. Retirado de contexto, este local destinado a testes para soluções tecnológicas da Trimble, em Nevada, poderia facilmente ser confundido com uma Disneylândia de adultos “nerds”.

Automação é a palavra-chave que domina as discussões hoje, das lavouras agrícolas aos bolsões de construção civil. Criada no Vale do Silício, a Trimble, uma empresa com faturamento anual de US$ 2,7 bilhões, trouxe, na primeira quinzena deste mês, ao deserto americano quase 5 mil clientes e colaboradores para mostrar o que está fazendo – uma visão estranha de máquinas solitárias que deverá ser a realidade no futuro próximo.

Mas pouca gente aqui sabe ao certo a velocidade com que as futuras tecnologias serão adotadas em sua plenitude. Para os agricultores presentes, automação continua parecendo ser uma palavra abrangente, um enorme guarda-chuva sob o qual estão soluções simples ou bem mais complexas.

A Trimble tem hoje cerca de 350 mil displays associados a pilotos-automáticos em máquinas agrícolas espalhadas em diferentes mercados de atuação. É muita coisa, afirma Abe Hughes, responsável global pelo setor agrícola da empresa, que opera também em outros ramos industriais. Mas essas espécies de computador de bordo ainda têm funções básicas em grande parte: garantir que o trator, a colheitadeira ou o pulverizador simplesmente andem em uma linha reta.

“Para nós, o GPS foi a grande ferramenta de entrada na tecnologia porque diminui muito os casos de roubos nas fazendas. Agora os satélites nos ajudam a monitorar as lavouras do ponto de vista agronômico”, explica Alexey Kukura, representante de VolgodonAgroinvest, um grupo russo que administra quase 400 mil hectares de propriedades rurais arrendadas na região central da Rússia, que após o fim do regime comunista permitiu a titularidade privada da terra.

O Glonass, sistema de satélites russo adotado por essas fazendas (o equivalente ao GPS, americano) foi crucial porque conseguiu controlar pela primeira vez os ativos físicos dos processos produtivos. Com a navegação, os russos conseguiram monitorar onde estavam máquinas e até carros corporativos, vulneráveis a roubos de combustível e na quilometragem rodada.

Leonid Orlov, do Prodimex, grupo russo de produção de açúcar de beterraba que administra quase um milhão de hectares no país, admite que, apesar do gigantismo da empresa, tecnologias muito avançadas ainda precisam ser provadas para valer o investimento. E deixar uma máquina andando sozinha na Prodimex? Ele acha bastante improvável, por desconfiança mas sobretudo pela dificuldade de gestão em áreas muito grandes.

Para o americano Clay Neff, do Texas, com 600 hectares de algodão plantados, a falta de mão de obra nos EUA é a grande propulsora da adoção de tecnologias – mais que a necessidade agronômica. “Há três coisas que eu não posso controlar: as chuvas, os mercados e os trabalhadores. Se a tecnologia me ajudar a diminuir a dependência de mão de obra, eu quero”.

Máquinas andando sozinhas como no campo de testes em Nevada ainda são um conceito considerado caro e distante desses produtores. Antes disso, passos ainda mais básicos precisam ser tomados. A adoção de sensores em pulverizadores que identifiquem ervas daninhas é um exemplo. Proporcionalmente à frota mundial, poucas são as máquinas que contam com esses dispositivos. A agricultura de precisão, que identifica locais de plantio, semeia, aduba e pulveriza, ainda engatinha.

Resistência igual virá com o chamado “machine learning”. É um capítulo além da programação prévia que permite à máquina rodar sozinha. Graças aos algoritmos, elas aprendem com o tempo, por exemplo, a ajustar operações a partir de erros – como nós fazemos, mas sem a nossa ajuda. Automação depende de com quem se fala, e de onde, e nesse processo existem diferentes necessidades e receios.

A Trimble está atenta a essas nuances e vem trabalhando com estratégias diferentes para avançar em seu portfólio. Nos Estados Unidos, as fazendas localizadas no sul do país são mais propensas ao novo por terem um perfil mais profissional em relação às propriedades do “Corn Belt”, no Meio-Oeste americano, ainda fortemente baseados em negócios de famílias. No Brasil, os gaúchos que colonizaram o Centro-Oeste são mais abertos em relação os do Rio Grande do Sul, diz um revendedor da Trimble.

No deserto americano, a curiosidade em torno das máquinas autônomas é grande mas ainda há dúvidas se tudo aquilo é realmente o que se quer para hoje.

A jornalista viajou a convite da Trimble