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Fazendeiro da África do Sul cria vermes para fazer ração animal

AgriProtein/Divulgação
Moscas soldado negro, cujas larvas são usadas na produção de ração animal

Durante anos, o empresário britânico Jason Drew dirigiu várias empresas rentáveis em setores diversos, que iam de TI a finanças, e considerava os ambientalistas um impedimento ao crescimento econômico.

Mas depois de sofrer dois ataques cardíacos e passar meses se recuperando na fazenda da família na região da Cidade do Cabo, na África do Sul, Drew começou a mudar de ideia. “Entrei novamente em contato comigo mesmo e com a natureza”, conta o empresário de 52 anos. Passou, então, a acreditar que os negócios poderiam ser orientados com o objetivo de corrigir alguns dos problemas ambientais mais urgentes da Terra.

A AgriProtein, sua fábrica de ração animal que utiliza resíduos orgânicos para gerar proteínas de alta qualidade usando larvas de moscas, é um indicativo de que seu palpite estava certo.

Fundada na Cidade do Cabo em 2008, a empresa reproduz bilhões de moscas soldado negro – uma espécie dócil com olhos grandes e antenas bifurcadas – e alimenta seus vermes com resíduos alimentares vindos dos aterros sanitários superlotados da cidade. As larvas são vorazes e aumentam seu peso mais de 5.000 vezes em três semanas. Quando viram pupas (estado intermediário entre a larva e o imago nos insetos), elas são transformadas em pellets de alimentos (da marca MagMeal) e óleos ômega (MagOil) para criação de gado ou de peixe, deixando para trás um rico solo em compostagem (MagSoil).

Esse processo desvia resíduos do aterro sanitário, diminui a pressão sobre as terras agrícolas e as fazendas de peixes utilizadas para a produção de ração animal, e devolve os nutrientes aos solos empobrecidos – tudo isso enquanto gera lucro.

“A degradação do nosso planeta chegou a tal ponto que resolver o problema se tornou algo muito lucrativo”, anuncia a AgriProtein, em seu site. O valor de mercado da empresa subiu para US$ 117 milhões em novembro do ano passado, depois de ter captado US$ 17,5 milhões para se expandir na Europa, Américas do Norte e do Sul e Ásia.

Em 2016, a empresa se associou ao grupo internacional de engenharia Christof Industries para implementar fábricas de acordo com projetos testados na Cidade do Cabo, com metas de estabelecer cem unidades no mundo todo até 2024, e outra centena até 2027.

Cada fábrica empregará cerca de 60 pessoas e abrigará 8,5 bilhões de moscas – maior que a população humana na Terra. As fábricas receberão, cada uma, cerca de 250 toneladas de resíduos orgânicos por dia, equivalente ao que as larvas podem processar, para produzir 5 mil toneladas de pellets e 2 mil toneladas de óleo por ano. “Estamos no caminho certo para gerarmos bons impactos, mas mal começamos a arranhar a superfície”, afirma Drew.

A produção de ração animal reduz os estoques de peixes no planeta e as previsões indicam que a demanda por farinha de peixe excederá a oferta na próxima década. “Cada fábrica permitirá que pelo menos 10 mil toneladas de peixe permaneçam no mar todos os anos”, diz. “Um dos meus objetivos é reduzir, e com o tempo eliminar, a necessidade da farinha de peixe”.

Por Kimon de Greef | Da Sparknews  (Jornal Valor econômico)

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IoT avança no campo

A tecnologia está ajudando a reduzir os custos e aumentar a produtividade no campo. O agronegócio brasileiro já é um dos setores mais avançados no uso de sistemas de internet das coisas (IoT), baseados em sensores para captação remota de dados de equipamentos, ambiente ou animais, e foi selecionado como um dos segmentos prioritários para sustentar a Política Nacional de IoT, voltada a ações de incentivo ao desenvolvimento tecnológico do país.

Estudo realizado para o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação (MCTIC) embasar o plano mostrou que o emprego de IoT no campo está crescendo rapidamente. A estimativa é que até 2025 o impacto do uso das soluções nesta área alcance entre US$ 5 bilhões e US$ 21 bilhões, apoiando queda de até 20% no uso de insumos agrícolas e alta de até 25% na produção das fazendas, destaca o secretário de políticas de informática do MCTIC, Maximilano Martinhão.

Startups fornecedoras de sistemas para o agronegócio, como Agrosmart e Strider, são exemplos da vitalidade do setor. A Agrosmart, especializada em IoT e inteligência de negócios, foi fundada em 2014 por Mariana Vasconcelos, filha e irmã de agricultores. Selecionada no programa Startup Brasil, foi acelerada pela Baita. Nos Estados Unidos, participou de programa de transferência de tecnologia com a Nasa em clima e de aceleração no Google e na Thriove, especializada nas agrotechs, startups especializadas em agronegócios.

No ano passado, a Agrosmart recebeu aporte da SP Ventures e este ano deve faturar R$ 10 milhões. Seu sistema de monitoria oferece informações baseadas na coleta remota de dados colhidos por sensores instalados em cada talhão da propriedade do produtor para monitorar ambiente, solo e clima e apoiar recomendações em relação a irrigação, doenças e pragas.

A falta de conectividade no campo foi contornada com sistema de radiofrequência que permite a comunicação de um sensor com outro a distâncias de até 15 km. Ao chegar na sede da propriedade os dados são transmitidos por internet ou celular para o aplicativo instalado em computador, tablet ou smartphone. Os serviços resultam em melhorias como aumento de até 20% na produção e redução de 60% no consumo de água e 40% do gasto de energia, diz Mariana.

A Agrosmart cobre 80 mil hectares e exporta para América Latina, Israel e Estados Unidos, onde abriu uma subsidiária para atender setores de alimentos, bebidas e agroquímicos. A possibilidade do país ocupar a vice-liderança mundial na exportação de tecnologias de IoT para o agronegócio, particularmente relacionadas à agropecuária tropical, é outra conclusão do estudo realizado pelo MCTIC.

Hoje a startup trabalha com inteligência de dados para apoiar cadeias produtivas desde o desenvolvimento da semente até a indústria alimentícia. “Este ano vamos lançar medição de salinidade do solo, para melhorar a aplicação de fertilizantes e, em 2018, modelos de previsão de pragas e doenças”, diz a CEO Mariana.

A tecnologia no campo vai além da IoT. A Strider surgiu em 2013 com o software de monitoramento e controle de pragas Protector, que usa georreferenciamento para definir campos, rotas e pontos de medição para monitoria de cada safra e. Os dados são inseridos em tablet e as informações são transmitidas ao final do dia por internet, criando uma linha do tempo de cada talhão. Os dados podem ser acessados por aplicativo para controlar processos como prescrições para pulverização e estoques.

Outro produto, o Tracker, monitora frotas de tratores e implementos com apoio de sensores e da rede de rádio de baixa frequência Horizon, da própria Strider, que também permite conectar estações climáticas, armadilhas digitais e outros sensores distribuídos no campo. A empresa oferece ainda o sistema de gestão Base e o Space, capaz de identificar áreas com problemas na safra com base em imagens de satélite ou drones, descreve o diretor Henrique Prado.

Hoje a Strider monitora cerca de 2 milhões de hectares no Brasil, mais de 600 propriedades rurais e fazendas na Austrália, Estados Unidos, Bolívia e México. A empresa recebeu investimentos em torno de R$ 10 milhões dos fundos Barn, Monashees e Qualcomm e este ano deve faturar R$ 15 milhões, 5% com clientes estrangeiros. As grandes empresas de tecnologia também estão de olho no setor. A Qualcomm fez parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para desenvolver sistema para monitorar dados como detecção de focos de pragas, déficit de nutrientes e danos ambientais, com base em drones.

Por Martha Funke | Para o Valor, de São Paulo (Jornal Valor econômico)

10 de outubro de 2017. Visualizações: 506. Última modificação: 01/11/2017 23:31:39